Ao abordar o tema “ Mulheres na Arquitetura ”, percebe-se como essa pauta, vem acompanhada de uma discussão mais profunda e tão atual, que é a Equidade de Gênero.

A arquitetura, muitas vezes, é percebida como um universo neutro, mas não é bem assim.

Mesmo as mulheres sendo a maioria no universo da profissão, com 63% de atuantes no mercado (dado publicado pelo CAU em 2019), e sendo o grupo que mais emite RRTs de projeto, ainda se enfrenta todas as dificuldades que a herança de uma estrutura patriarcal pode causar: disparidades de salário, discriminação, e falta de representatividade em chefias e prêmios.

Gráfico representatividade mulheres arquitetura

Um Exemplo é o Prêmio Pritzker, fundado em 1979, por Jay A. Pritzker e sua mulher Cindy, que até hoje só premiou UMA mulher sozinha, Zaha Hadid, as outras duas a serem honradas com o prêmio ganharam em conjunto com seus parceiros homens.

O último censo produzido pelo CAU, apontou que a maior parcela de profissionais atuantes até 60 anos são mulheres, no entanto quando a idade referencia passa a ser acima de 61 anos, a maioria masculina volta a predominar, isso nos leva a crer que a carreira proporciona maior longevidade para homens.

 

Dentro da lista dos 100 maiores escritórios do mundo, apenas TRÊS são chefiados por mulheres e 16 não possuem nenhuma mulher em posições superiores.

Na busca por um universo mais igualitário, observa-se iniciativas dos mais diversos grupos do setor. Um exemplo disso é o projeto “Arquitetas Invisíveis” fundado por estudantes da FAU- Unb em 2014. O coletivo tem crescido e protagonizado inúmeras discussões acerca da falta de representatividade das mulheres na arquitetura mundial dos tempos passados até os dias atuais.

Recentemente, o CAU/BR aderiu a plataforma Women Empowerment Principles, criada pela ONU Mulheres, e criou a Comissão para a Equidade de Gênero (CTEG). Desde então, o conselho fomenta muitos debates acerca do tema, afim de ajudar as arquitetas a vencer os desafios do exercício da profissão.

Os NOSSOS desafios de sermos mulheres no meio da arquitetura em Brasília

 

Diante deste cenário, ainda que tenhamos nos especializado em uma área que se mostra um pouco mais receptiva, que é a Arquitetura de Interiores, é evidente, que ao longo da nossa experiência no mercado, pudemos perceber obstáculos que se fizeram presentes pelo fato de sermos mulheres.

 

No início da formação do nosso escritório, costumávamos adorar acompanhar as execuções de nossos projetos, mas passávamos por tantos questionamentos da nossa capacidade e até conhecimento técnico nas obras, devido a dois fatores predominantes:

1 – O fato der sermos mulheres;

2 –  A nossa idade e a suposição da falta de experiência;

Que por muitas vezes nos vimos desmotivadas em continuar.

 

Há poucos meses, sofremos assédio e tivemos nosso trabalho dificultado por um cliente que, só iria dar prosseguimento ao contrato, se uma de nós topasse um jantar. Na hora, a gente ri, fica sem graça, mas no fundo, o sentimento é de impotência.

E conversando com outras colegas que trabalham em ambientes de obra ou fora da área de arquitetura e interiores, soubemos que o assédio é um fato diário, por parte dos engenheiros, colegas e de outros funcionários. O jogo de cintura acaba fazendo parte para mantermos um bom ambiente de trabalho, mas  porquê essa atitude tem que vir de nós e não daqueles que assediam?

 

Como nos posicionamos diante desses desafios e como nos posicionar a longo prazo.

 

Quando fundamos o escritório, intitulávamo-nos de Estudio A, nossa identidade visual era toda em tons de rosa seco, bem delicada.

 

Depois de um ano no mercado, vimos a necessidade de mudar, e nos posicionar da forma que nos víamos: empoderadas e capazes.

 

Reavaliamos nossa postura, mudamos o nome do escritório, que usamos até hoje, “Traama Arquitetura”, trocamos toda a identidade visual, e junto com essas mudanças, percebemos duas sócias mais fortes e preparadas para enfrentar as dificuldades que vão surgir.

Nesse mesmo momento vencemos um concurso Jovem profissional da São Geraldo, onde deveríamos criar um lavabo unissex para Casa Cor 2016, corroborando mais ainda com a mudança interna do escritório e de que outras pessoas tenham a chance de aprender a viver num novo mundo sem tanta diferenciação.

 

Não resta dúvidas, que ainda há muito a ser feito, mas cabe a nós, mulheres, nos fazer representar, contar a nossa história da nossa ótica, mostrar como contribuímos de forma valiosa para o nosso cenário e cada vez mais transformar o universo da Arquitetura, em um ambiente mais receptível e igualitário para a presença feminina.

 

Um pouco mais sobre: https://www.caubr.gov.br/inedito-visao-completa-sobre-a-presenca-da-mulher-na-arquitetura-e-urbanismo/

Qual a opinião de vocês sobre o assunto?

Vamos enriquecer esse diálogo. =)ar